terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

360 - Descrição do Projeto

O arquipélago dos Açores é um território onde se esconde uma portugalidade peculiar e a temática da edição deste ano da Semana Cultural da Universidade de Coimbra abriu-nos a porta para uma viagem teatral sobre esse universo. Este projeto não parte de um texto literário ou dramatúrgico, mas sim de um trabalho de campo, ou se quisermos, uma residência artística a céu aberto. Vamos estar em S. Miguel entre 11 de Março e 11 de Abril a recolher imagens, sons e textos que nos indiquem um caminho para uma abordagem impressionista que nos levará à construção de um espetáculo. Procuramos uma visão parcial e subjetiva, ou seja, não ambicionamos retratar toda a cultura açoriana, nem criar um tratado de semiótica sobre a vida dos ilhéus. Por outro lado, não pretendemos fazer qualquer operação de resgate cultural, porque não vemos os Açores como uma região esquecida, mas viva e presente. 

O que queremos então escrever? Vitorino Nemésio escreveu sobre os Açores; Raul Brandão escreveu sobre os Açores; recentemente, Gonçalo Tocha filmou os Açores e a Karnart construiu uma perfinst sobre os Açores a partir dos textos de Brandão. Obviamente está longe de estar tudo dito, mas quisemos escolher o nosso próprio ponto de partida.

Como terra de emigração por excelência, os açorianos têm (supomos) um espólio de cartas trocadas entre os seus familiares e amigos que trazem carimbos de todas as partes do mundo. Inclusivamente – sabemo-lo há pouco – aqueles que não sabiam escrever enviavam por correio cassetes gravadas às suas famílias. Estas práticas traduzem-se num ato íntimo (que não é nossa intenção devassar) e num relato fiel do ser açoriano (esperamos). A emigração tem este paradoxo: torna o emigrante mais português, porque ele quer reconstruir a pátria à sua volta, esteja onde estiver, para colmatar as saudades e a ausência de certos sabores e temperaturas. 



360 é relativo à infinitude da ilha enquanto território circular, mas também uma analogia às voltas do correio e às tornas a casa dos bons filhos da emigração.

Estamos a iniciar o projeto com alguns parceiros açorianos: Maria Simões (Descalças - Cooperativa Cultural), Tiago Melo Bento e Montserrat Siges (Associação Corredor) e Susana Moura (Teatro Mensagem). Com eles estamos a criar uma rede de contactos no sentido de construir uma base de dados de correspondência açoriana.




Todos os que tiverem uma costela atlântica e um baú recheado de postais antigos podem contactar-nos através deste site.

Obrigado!